quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os infortúnios de uma criança

Martins Pena retorna a Alagoas


por Ronaldo de Andrade

É curioso observar que a obra de Martins Pena (1815-1848), tenha se tornado peça histórica, parcamente visitada pelo movimento de teatro nacional, da segunda metade do Sec. XX, e quase nunca lembrada neste início de Séc. XXI. Em se tratando de produção distinguida com alta reputação artística e de autor reconhecido pela exemplaridade produtiva, torna-se indiscutível a opção pela montagem de qualquer uma das suas peças. A uma atitude artística como esta, é descabida a aplicação do termo “resgate”; pois se a obra de Martins Pena foi exilada dos palcos nacionais os seus temas continuam presentes na vida brasileira em toda sua pujança de teatralidade.

O público de teatro, em Alagoas, já teve a oportunidade de ver Martins Pena por duas vezes. A primeira há 45 anos. E esta aconteceu por iniciativa da Profª. Bárbara Heliodora, através do Serviço Nacional de Teatro - SNT, na oportunidade das comemorações, em todo território nacional, dos 150 anos do nascimento do comediógrafo. Então, Martins Pena foi recebido em Maceió com um programa solene. A festa ímpar aconteceu com a reabertura do Teatro Deodoro, após seis meses fechado para serviços de manutenção, na administração de Braulio Leite Júnior, sob o governo do Major Luis Cavalcante (1913-2002), e contou com discursos de intelectuais dos portes do Pe. Humberto Cavalcanti (1927-2005) e do Acadêmico de Direito Luiz Guttemberg Lima e Silva, além das estréias de duas de suas comédias: O terrível Capitão do Mato, montada pelo grupo de teatro Os Dionysos e O irmão das almas, montada pela ATA. A segunda vez, foi há 10 anos. Ela se deu com a comédia Quem casa quer casa, em uma situação das mais emocionantes, porque no histórico Teatro Sala Preta, para o bem do talento dos estudantes de teatro, do memorável Curso de Formação do Ator, da Universidade Federal de Alagoas -UFAL, e da prática docente do ator, dramaturgo, diretor e sócio da ATA, Homero Cavalcante. Portanto a ATA, o grupo de Linda Mascarenhas (1895-1991), teve o privilégio de recepcionar Martins Pena, aqui em Maceió, nas duas ocasiões surgidas.

A montagem da comédia As desgraças de uma criança, de Martins Pena, pela ATA, neste 2010, possui o significado de retorno do “fundador da comédia de costumes” brasileira, “aos cenários alagoanos”. E ele, Martins Pena, se aventura nesta viagem que inicia em Maceió, motivado pela oportunidade de anunciar as celebrações dos 55 anos de fundação da ATA. Uma ATA, como ele, romanticamente sequiosa de Brasil, mas pela via alagoana, e também identificada com o caráter cômico e espirituoso nacional, isto é, uma ATA pronta para recepcionar a este que foi aclamado o “Molière Brasileiro”, por João Caetano (1808-1863), e apontado como o “Aristófanes Brasileiro”, por Sábato Magaldi.

Há vitalidade na obra de Martins Pena; há energia capaz de produzir a sinergia necessária para o divertimento, na comédia As desgraças de uma criança. Mas, acima de tudo, há uma lição de amor ao teatro, como metáfora do amor aos da terra onde se faz este teatro.

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