quarta-feira, 9 de março de 2011

Bloco Filhinhos da Mamãe é tema de pesquisa


A Mamãe, minutos antes do bloco ganhar as ruas de Jaraguá.
Foto: Divulgação.
Ao chegar a Maceió para estudar as coleções do Museu Théo Brandão, o pesquisador do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Daniel Reis, se deparou com a 'Mamãe'.
A boneca gigante e suas curiosas histórias de Carnaval não demoraram a fazer parte dos estudos de Daniel para o doutorado em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Mergulhado nos arquivos do museu e em entrevistas com os 'Filhinhos', o pesquisador está em busca de uma descrição etnográfica dos circuitos culturais em torno do bloco carnavalesco e os agentes que ele mobiliza.
“A intenção é uma análise da trajetória da boneca Mamãe e suas diferentes formas de apropriação em princípios díspares: a museológica que prima pelo uso calcado nos preceitos da preservação; e a do Carnaval, voltado para os ritos festivos onde não há uma preocupação prioritária com a integridade dos artefatos que compõe os adereços de blocos e escolas de samba”, explica.
Na noite do último dia 25, o pesquisador viu de perto os ritos do desfile do bloco nascido a partir da encenação da peça 'Estrela Radiosa', da Associação Teatral das Alagoas (ATA).
“Os Filhinhos da Mamãe é altamente ritualizado e traz muitas referências do mundo teatral, com alegorias como os guardiões, homens vestidos como centuriões romanos, e o porta-estandarte, cujos trajes remetem a um lorde inglês do século XVII ou XVIII”.
Família grande
Ao acompanhar todas as etapas da Mamãe, Daniel constatou que o bloco deixou de ser uma reunião de artistas. A família cresceu e agora tem milhares de Filhinhos de várias idades, profissões e classes sociais.
“Os Filhinhos da Mamãe tem uma imagem associada a ser 'o bloco dos artistas'. Isso porque surge a partir de um grupo de amigos ligados ao teatro. No entanto, esse núcleo logo se expande abarcando pessoas de outras áreas. Atualmente, ainda que atraia um grande público ligado ao campo das artes, o bloco desfila com foliões oriundos de diversos segmentos sociais. O único apelo dos organizadores é o de que as pessoas se fantasiem para a festa”.
A resistência dos Filhinhos para colocar Mamãe na rua também chamou a atenção do pesquisador. O dinheiro para o desfile sai, praticamente do bolso dos filhinhos mais dedicados e algum repasse governamental. “O bloco se mantém pela persistência e capacidade de articulação de seus organizadores. Da vontade que têm de fazer um carnaval de rua alegre e descontraído”.

Fonte: Roberto Amorim. Site Tudo na Hora.